Somos o B da Sigla!

B de bandeira e não de primeiro.
B de Brasil e de brasileiro.
Eu não vim aqui para querer que você me engula!

Não pise sobre meus calcanhares,
Não diga que minha causa é mentirosa,
Estou por todos os inúmeros lugares,
Me escondendo de sua opinião odiosa.
Não empurre meu corpo para o espaço,
Não me deixe ruir com sua maldade,
Não desrespeite aquilo que sou e faço,
Não me diga que é coisa da idade!
Eu sou bi, então be!
Eu sou bi, então seja!
O que você vai descobrir?
Estou em qualquer lugar que você esteja!
Eu sou bi, então be!
Eu sou bi, então seja!
Eu não pedi, mas eu nasci,
E seu eu nasci, então me veja!
Somos o B da sigla mais Best,
O B de luta e que se veste,
Com uma cor da bandeira,
De uma língua estrangeira,
De uma língua nacional!
Somos o B da sigla, B de bissexual!

Da cor púrpura como Purple Rain,
De beijo cativante e humano.
Entre o rosa gay e lésbico do bem,
Entre o azul heterossexual e mundano,
Eu sou bi, então seja!
Eu sou bi e vou na igreja,
Não me entrego de bandeja,
Por que sou bi mas tenho meu valor!
A dor e a rosa, toda cor,
B de Brasil e de brasileiro,
Latino americano por inteiro,
E se fechar todas as portas eu faço janelas,
Sou arquiteto de coração e de mazelas,
Sou B de boca, sou B de bem,
Eu sou bi, e o que é que tem?
Purple Rain, Purple Rain!

Se eu falar sobre os hippies da praça,
E as estrelas do céu?
E se eu acabar perdendo toda a graça,
Sobre aquilo que é B de bom,
Sobre o edifício que tampou a paisagem?
Estou aqui só de passagem,
Você não tem o tamanho do mundo,
E a partir deste exato segundo
Você não pode me querer fora daqui,
Por que também sou parte da humanidade,
Não pode me deixar subir,
Para fora da atmosfera sem gravidade.
Eu sou bi, então seja!
E se eu nasci, então me veja!
Deixo um pouco do muito de mim,
Para aqueles que se atreverem,
Desbravar o meu oceano de palavras até o fim,
E não se arrependerem,
De ver apenas um homem,
Jogando no time da humanidade,
Uma bandeira ou a bissexualidade,
Não me torna menos humano.

B de Brasil e não de complicado.
B de besta, e o mundo ficou maravilhado!
Eu não vim aqui para querer que você me engula,
Mas também não me faça engolir à força!

[...]
Cinco, quatro, três, dois, um...
Eu tenho uma dor dentro do meu peito,
Por que eu tentei me matar e não tem jeito,
Por que eu cansei de toda essa existência,
Eu não tenho mais nem um pingo de paciência,
Estou pensando e pensando, e nada condiz,
Por que a realidade machuca o meu coração,
E eu estou cansado de só dizer verdades,
Eu estou cansado de ter alguma causa social,
Eu sou um ser humano normal,
Eu sou normal! Eu sou normal!
Se B de bom ou de Besta,
Se Bissexual ou a carne da sexta,
Vai ser lindo quando eu partir...
Vai estar chovendo, naquele vento frio de Maio,
E vão ter rosas vermelhas em pencas,
E vou estar sorrindo, mesmo com dor,
Meu peito vai se encher do amor que não dei,
E vou sentir um pouco de todas as coisas que me fazem viver,
Eu vou ver as letras soltas no meu leito de morte.
Estarei esperando minha mãe que vai vir com um vestido branco,
Com flores nos cabelos e um olhar angelical,
O frio vai me deixar menos mortal,
E vou parar de me importar se sou assim tão santo,
Vou parar de chorar baixo pelos cantos,
Eu vou transpassar a minha matéria.
E vai chover uma chuva roxa de sentimentos,
Inundando todas as ruas que passei em tantas décadas,
E minhas lágrimas ficarão tão inquietas,
E desta vez não abrirei meus olhos,
Não vou precisar mais arrumar meus cabelos,
Escolher a roupa que vou vestir.
Não verei mais os recados que me mandam,
E nem mesmo se o sol está sobre a minha cabeça,
E a Terra continua girando.
Minha existência é uma merda. Não faz diferença.
As estrelas continuarão no céu,
Os automóveis andando loucos nas ruas,
As pessoas sentadas com suas pernas nuas,
As cidades cada vez mais periféricas,
As mudanças de comportamentos e atmosféricas,
Todos aqueles satélites procurando vida,
E não vendo que a vida daqui vale muito à pena!
E vou saber se isso é mentira,
Se isso não é apenas um jogo,
Cheio de fases como a Lua...
Eu vou voltar a ser poeira...
Eu vou voltar a ser poesia...
Eu vou voltar a inexistência dos iguais...
Eu vou voltar...
Eu então vou sugar todo o ar que puder,
Como se fosse uma canja de galinha,
Um sorvete de casquinha,
E sorrir... Um sorriso daqueles pausados,
Abraçarei todos que estiverem do meu lado,
E não direi nada mais de especial,
Farei as mesmas brincadeiras com meu humor negro:
“Então é isso, acho que não preciso mais te pagar!”
“Vê se não come puro um boi!”
“Não precisa chorar, você já tem uma cara feia!”
Ainda vai existir a minha rua sem saída?
E todos os vizinhos que sempre achavam uma coisa e outra?
E todos aqueles sonhos?
Eu só quero ter sido um significado dentre tantos...
E poder ter sido algo a mais do que matéria...
Morrer no dia do meu aniversário,
De morte morrida, passada e lavrada no cartório.
No dia 14 de Maio, o meu velório,
No dia 14 de Maio o fim da minha existência.
Um, dois, três, quatro, cinco...
[...]

Vou sair daqui e caminhar com a humanidade,
Com aqueles homens que não tem nem representatividade,
Sobre a mesma bandeira, com os mesmos preconceitos,
Da mesma forma brutal, com os mesmos atos violentos,
B de bandeira e não de primeiro.
B de Brasil e de brasileiro.
Eu sou bi, e o que é que tem?
Eu não vim aqui para querer que você me engula!

By: Vinicius Osterer
Feito em 13 de março de 2017.

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