Naked In The USA

Para ler esta poesia fique despido,
Talvez puxe uma cadeira e olhe o sol comovido,
Observe o horizonte, veja poesia,
Acho que sempre fui intenso em demasia:
Amei demais, chorei rios e corredeiras,
Sorri demais, falei um punhado de asneiras
Cachoeiras,
Águas que batem nas pedras e não param,
Tentando lhe falar o que nunca falam:
"Ah! a vida, eu respiro, sou um sistema"
"Sou amigo, sou guerreiro, sou um problema".
Eu quero me despir das coisas,
Ser menos eu e mais fragmentado.                     

E eu parti, riscando o chão por onde pisei,
E se parti? Não sei para onde fui, para onde irei,
Posso estar nos EUA, posso estar em outra nação,
Posso estar na minha pátria, dentro de um livro de ficção,
Dentro da literatura, dentro da minha demência,
Sobre o fracasso da minha vida e toda a decadência.
Mas eu quero me despir da matéria,
Dissipar os tijolos, os cimentos e toda argamassa,
Fazer fluir uma água pura que me faça,
Mais livre, menos sedento e mais leve,
Falar o que ninguém mais se atreve,
Descer a rua asfaltada descalço,
Cruzar a esquina sem ter preocupação.

Os EUA já representaram a humanidade,
O progresso científico e a mudança para o capital.
Foram a lua, mas preferem construir desigualdade,
Com um muro que os escondem até do que é universal,
Eu quero esconder o meu país?
Eu quero dividir esse pedaço de nada?
O que é a nação humana?
Com o que ela está preocupada?
Do que adianta criar barreiras, já imaginou como será?
Se você não puder nem mais sair, ou nunca mais entrar?
Apenas queria me desnudar destas coisas doloridas,
Dar à elas um pouco a mais de vida,
Deixar que elas brilhem mais que o meu nome.

Não sou azul, não sou vermelho e nem branco,
Não sou um demônio, muito menos um santo,
Sou um fragmento da humanidade,
Poesia da decadência e insanidade.
Não sou latino, não sou desempregado e nem bissexual,
Não sou um rótulo, nem uma marca tão banal,
Eu sou matéria, eu sou estilo e sou espiritual,
Sou a igreja, sou a política e sou um animal.
Sou a pedra parada e sem função,
Sou a estrada aberta na solidão,
Sou o brilho das constelações de madrugada,
Sou o poeta e sou a pessoa não amada.
Eu sou um nada, eu sou um nada....

Posso ser tudo, posso estar em qualquer lugar,
Posso dizer: “Como é bom amar!”
Posso escrever, posso discutir e pensar,
E posso temer, posso ferir e julgar.
Eu não sou tão bom assim como o fogo,
Que purifica a matéria e a transforma.
E não posso gostar deste jogo,
De rimar sem estrutura e sem forma.
Sou simples e pobre, precário e denso,
Sou pequeno, sou frágil, tenho validade.
Sou um fragmento daquilo que penso,
E sou tão pouco para ser a verdade,
Mas quero deixar que as coisas caíam sobre a terra.

Queria poder usar trapos sem ser mendigo,
Cruzar fronteiras sem ser imigrante.
Poder acreditar, mas eu sempre me contradigo,
Me pego olhando para o sol tão brilhante.
Centralizado sobre o eixo de todas as cabeças,
Dando vida até onde não existe.
Deixando os extremos todos nas avessas,
Dentro de um canto abissal e triste.
E eu me curvo perante o dragão da humanidade,
Perante o poder de tudo que foi lhe dado,
Quem é como aquele, que se sente culpado?
Quem vai guerrear contra toda sua autoridade?
Ainda sou um mero resquício do Big Bang.

Estremeço com as palavras doloridas,
Com as pessoas tão espavoridas,
Vivendo em um mundo de hiperestesia,
Dentro da minha ilusão e utopia.
Cativado com o canto metódico do espaço,
Querendo assumir um risco naquilo que faço,
Deixando que entre em mim o que é belo!
Deixando transparecer o que eu penso e quero!
Queria que fosse natal, que fosse noite e passado,
Quando brincava sem me preocupar com o fardo,
Com o peso do mundo e das decisões,
Com meu punhado tão grande de escuridões,
Com tantos “eus” que tenho para alimentar.

O que tenho na mala? Não tenho roupas, só palavras,
Eu vim despido de caráter e ego. Vim sendo apenas humano.
Eu rasguei meu coração em pedaços e não nego,
Queria tanto aprender a tocar um piano.
Poder colocar minha vida sobre as teclas mansas,
E abrasar meu peito cheio de buracos cavernosos.
E beijar a face dos anjos como se fossem crianças,
Com seus mantos angelicais tão poderosos.
Não ter bandeira, nacionalidade e desgosto,
Abraçar e poder beijar no rosto,
Todos que assim também desejassem.
Nu, como em um éden, paraíso ilustrado,
Da criação de um universo ficcional e inventado.

E depois de despido e saciado,
Essa corredeira não sabe o destino final.
Talvez a lua, uma leva de planetas, um universo criado,
Talvez o próprio planeta imerso no efeito colateral,
Da sua própria arrogância e sombra.
Onde se encaixa o equinócio e a poesia?
Cachoeira de pedras com água tão fria,
Meus pés e minhas mãos estão congelados,
Todos os sentimentos bons foram ceifados,
Aquilo tudo de valor que eu tinha se foi,
E meu tronco humano não arbóreo dói,
Não posso evitar estar em eclipse total,
Dentro das grafias de grandeza sideral.

Deixe seu medo de fracassar para trás,
O que pensarem sobre você não lhe afetará jamais,
Por que estará despido de seus próprios julgamentos,
Levantará a cabeça em todos os momentos,
Do que adianta mentir sobre si mesmo?
Estou pisando em terra de ninguém,
Oceanos ainda não conhecidos.
Por que eu quero ser alguém,
E tenho os meus motivos.
Quem sabe embarquei nos resquícios de um asteroide,
E esteja pensando como um andrógino androide,
Tentando trazer para a superfície coisas já afundadas,
Minhas personalidades que foram tão fragmentadas.

Me enrolei nos lençóis da cama, sonhando com estrelas,
Cobrindo meus pés com medo de traumas concretos.
E gritei com uma voz aguda, apagando todas as velas,
Dos meus aniversários, de todos os anos completos.
Queria ter posto uma toalha mais bonita para o almoço,
Aquela vermelha com detalhes dourados e curvilíneos,
Não queria ter parecido um ser humano rude e grosso,
Poderia lhe mostrar alguns dos meus fascínios,
As luzes que brilhavam através dos meus olhos verdes.
Estava flutuando dentro do meu quarto,
Em outro mundo, com o pensamento farto,
Cheio daquelas coisas que carrego no peito,
Com toda a maravilha de escrever sem ser perfeito.

Eu não quero me esconder atrás de filtros e muros,
Eu quero me despir sem precisar de meios obscuros,
Sem falsificar minha real identidade,
Sendo mais um dentro da humanidade.
Não quero sair consagrado,
Não quero ser idolatrado,
Eu quero ser lido e aceito,
Quero um amor correto e direito,
Quero poder transitar sem barreiras,
Amar nas minhas circunstâncias e maneiras,
Sem perder a fé na mudança,
Talvez seja minha ruína e ignorância,
Mas não posso ser óbvio e nem raso.

Minha bagagem eu levo dentro da cabeça,
Meu passaporte está na mala, com visto de entrada,
Talvez um dia eu lhe esqueça,
E não queira mais pensar em nada.
Estados Unidos? Do que importa a nação?
Estou pelado? Sem nada, com um coração
Grande o suficiente para aguentar qualquer injustiça.
Se na Itália, na Alemanha ou na Suíça...
Neste pedaço de Brasil de meu Deus.
Sou fragmento de um sistema já ordenado,
As águas de um oceano doce e turvado.
Vivendo em um mundo de hiperestesia,
Dentro da minha ilusão e utopia.

Naked in the USA.

By: Vinicius Osterer
Feito em 30 de março de 2017.

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