O Dia Que Sobrevivi a Mim Mesmo

Segundo um site de previsão de tempo fazem 18°C lá fora, com uma sensação térmica de 8°C. Bom. Muito bom. Sempre apreciei todo e qualquer frio fora de época! Estou aqui, do outro lado, quem sabe me expondo muito, vivendo minhas próprias ilusões. Mas ainda bem que estou aqui. E já agradeci por isso hoje. Agradeci por muitas coisas, inclusive meus fracassos. Não é assim? Agradecer até mesmo pelas coisas que não são boas? Não sei se é assim... Hoje não sei mais sobre nada... Tento deduzir inúmeras coisas que nunca me levaram a nada. E esse nada? Como o nada me chateia. Sou comprovadamente um grande chato!
Por que o dia que sobrevivi a mim mesmo? Não sei. Talvez isso tenha acontecido. Talvez isso não aconteceu. Sei que estava inflado como um grande balão que acabou estourando. Jogando pedaços e mais pedaços para todos os lados. Alguns pedaços grandes e outros muito pequenos. E estes últimos difíceis de achar. Estavam bem lá no fundo, daquilo que eu chamo de vida.
De tarde no banco da igreja eu pensei: o que esse padre tanto fala sobre Jesus ressuscitado? Por que alguém precisaria ressuscitar para provar alguma coisa? Só agora entendi. Acho que só agora quis entender.
E isso não é uma pregação de igreja, muito menos um relato mesquinho. Isso é um marco de sobrevivência. Eu sobrevivi a mim mesmo. E por mais destruidora que for, a pior das bombas nucleares da face da Terra, nada é comparável com este poder de destruição. Eu destruí a mim mesmo. Sem pensar duas vezes. Eu joguei fora minhas vontades, minhas verdades, minhas realidades, por um grande punhado de ilusões e mentiras. Quem é que pode fabricar um sonho?
Lá vem meus vinte e quatros anos, lá vem oito anos sem minha mãe, mas eu sobrevivi a mim mesmo. Estou vivo depois de tanta tinta de cabelo, depois de tanto menosprezo e desespero, das tentativas de suicídio fracassadas, dos amores perdidos e roubados, das expectativas que não se realizaram.
E finalmente hoje eu tenho o mundo sobre minhas mãos. Não preciso fazer o que não gosto, pensar naquilo que não me faz bem, conviver com pessoas por obrigação ou conveniência. Não preciso colocar uma roupa para agradar ninguém, pentear meus cabelos ou fazer alguma coisa da maneira que todo mundo faz. Porque “Mim” não é todo mundo.
E tantas vezes me calei, mesmo sabendo que a vida é curta! E por tantas não quis falar por que sei o limite entre sinceridade e educação. E pelo respeito eu criei coragem de me assumir como humano. Não como um bicho civilizado que pensa, mas como um humano. Posso pegar todas essas palavras e jogar em um lixo amanhã, mas sobrevivi a mim mesmo. Embarquei dentro de mim e dentro de minhas descobertas. Não deixei espaço para ninguém descobrir nada daquilo que eu antes não soubesse. Observei aquilo tudo que eu fazia. Também aquilo que eu deixei de fazer. Se foi um processo doloroso? Ainda dói por tudo aqui dentro. Ainda tenho um peito com cicatrizes que quem sabe um dia possam serem curadas. Quem sabe passem como as águas passadas, do dia de ontem em que eu chovi a tarde inteira.
Mas eu sobrevivi a mim mesmo. Eu superei aquele registro que tenho no cartório. Aquilo apenas garante que sou matéria. Eu fui mais fundo, tão fundo que não conseguia mais voltar. Mas eu voltei. E se voltei eu vou me amar. Porque só posso dar aquilo que eu tenho. E descobri que bem lá no fundo tenho um grande amor a vida.
Um sorriso, um abraço, um singelo bom dia. No processo acabei abrindo algumas tantas garrafas. Me afoguei em demasia dentro dos meus prantos. E como amei! E como sonhei! E como me iludi! Mas eu vivi! Eu sobrevivi! Mas não quero ser lembrado como um sobrevivente. Quero ser lembrado como um homem completo. Cheio da existência das coisas. Se não fosse pela sensação térmica lá de fora, diria que tenho um verão secreto dentro da alma. Uma coisa tão boa que vai morrer comigo. Sou tantas vezes um perigo. Mas não posso mais me ferir...

Dia 26 de Abril de 2017, Vinicius Osterer.

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