Batata da Perna

Eu tenho dores nas pernas adultas,
Dores que vem e não vão.
São dores atrozes e avulsas,
Dores que nem dores são.
Um prato de sopa e um clima ameno,
A tensão política antes da novela das nove,
E lá fora esse tempo tão cinzento:
Será que chove ou será que não chove?
Eu lapidei o diamante, Saturno Diamante,
Diamante Brasileiro.
Da direita é a joia, que se dá para um amante,
Um amante tradicional,
Que se coloca por primeiro,
Maior do que a batata da minha perna.

Perna voz passiva. Mente voz ativa.
E se eu quiser cruzar o céu – Você não pode.
E se eu falar tudo que quero – Você não vai.
E se tiver tantos sonhos – Todo mundo tem.
E se quiser ser igual ao ébano – Você não pode.
Se desejar cruzar os mares – Você não vai.
E se eu tiver esperanças – Todo mundo tem.
A perna vai embaixo a mente vai em cima:
Poesia é passiva, ativa, etérea e sem gênero.
Um golpe folclórico, histórico, para a rima,
Bem grande, alongado ou até bem pequeno.
Já nem sei o que escrever,
Vou usar minhas pernas como um travesseiro,
Tenho que caminhar, caminhar, caminhar,
“Não, você não pode!”
E seu eu insistir em ficar e focar e fincar?
“Não, você não vai!”
E por aqui? Quem tem palavras guardadas no peito?
“Todo mundo tem!”
Me pegue com força. Batata da perna.

Me bata batata, da perna na perna,
Sua força me mata, me maltrata,
Vai foder e vê se me esquece!
Vai foder e não me fode,
Perna voz passiva. Mente voz ativa.

Não chove em mim, não me desossa,
Me deixe afundar dentro desta fossa,
Perdi o chão, caminhei sobre o escuro,
Criei um elemento poético tão puro,
Eu estou escondendo meu corpo imaterial.
Minhas pernas em cena, meu gesto em ação,
Andando sozinho com minha transpiração,
Se massacrante e brutal. Muro, qual deve ser o lado?
Com meu pênis vertical, às vezes me sinto roubado,
Roubam de mim alguns pedaços que ficam,
Alguém vai ficar por aqui?
“Não, não vai”.
Voz ativa e sem moderação,
Ecoa dos cantos da minha nação:
Pela minha família, por dias chuvosos, eu voto sim!

Sopa de batata da perna, é o que tenho para comer,
Sem aposentadoria como eu irei me sustentar?
Não sou nem a metade do que pretendia ser,
E se eu procuro trabalho quem vai me dar?
Não tenho metade daquilo que sempre quis,
Não posso fazer tudo o que sempre sonhei,
E por quê? A voz ativa sempre me diz:
“Você vive nos trancos e barrancos, que eu sei”,
“Não me faça promessas, não queira mudar”,
“A vida é injusta, você tem que se acostumar!”
Meu grito não é passivo, não fico por baixo,
Não dou meus buracos, não tenho amuletos.
Eu tenho os meus santos, eu sou da reza mansa,
Da geração que nunca cansa,
Daquela que planta os seus sonhos.
Sou do tipo de ser humano que manda corações,
Mesmo estando com o meu em pedaços.
E o homem que coloca em todas as suas orações,
Os conhecidos, inimigos e seus fracassos.
Um coração pode salvar o mundo!
Uma joelhada no meio do seu saco,
Na testa aberta e limpa, na boca suja e desdenhosa,
O que começou com poesia,
Pode acabar como a “A Dor e a Rosa”.
E se ficar será bem vinda!
“Então que fique”, diz a voz ativa.
“Que fique como todas as coisas que chegaram e nunca foram”.

Minha mente parece acessórios e roupas,
Eu escolho aquilo que me cai bem, obrigado.
Às vezes as justas e em outras as soltas,
As sóbrias também, para não parecer desregulado,
Fora dos eixos, fragmentado.
Batata da perna. Vai foder e vê se me esquece!

Pedaço do meu corpo de abril de 2017,
Olhei para a parede e vi o nome da Janete,
A sindica do prédio de onde ele mora,
Um pedaço do meu olho que ainda chora.
Já cansei de quantificar tijolos,
Precificar sentimentos,
Personificar emoções,
Desmascarar inverdades,
Não fechar meus olhos para dormir.
E se iludir... Iludir, iludir e iludir.
E fracassar, caminhar e não sair do lugar,
Caminhar cada vez mais para nada,
Pernas e pés, finos, compridos, repetitivos,
Gostos exagerados pelos mesmos motivos,
Sorria com a boca cheia de água,
Pasmado, com um olhar do signo de peixes.
“Não, você não pode!”
Não permiti que encostasse com sua mão imunda,
Meu cadáver vivo cheio de desgosto,
Com uma marca de chupão no pescoço,
Com as cólicas que vieram do almoço,
Com uma rosa simbólica e católica no coração.

Travestido como a lua, de salto alto,
Minhas pernas ficam mais longas e angelicais,
Depiladas e sem pelos com cobertura de chocolate,
Morango e ébano nas paredes intestinais.
“Tira daí, coloca aqui dentro da escrita,
A sua cabeça às vezes me irrita,
Não quero ficar dentro da jaula!”
Ele disse que uma hora viria a calhar,
Mandou eu fechar meus olhos e não perguntar,
Sobre todas essas coisas, sobre tudo isso,
E se eu gosto disso?
Isso é irrelevante,
Pesa como um elefante,
Minhas pernas estão estragadas,
Com os senhores das madrugadas,
Letrando um mundo que é feito para a visão,
Andando sozinho com minha transpiração,
“Mas você não está sozinho”.
Perna voz passiva. Mente voz ativa.
Será que chove ou será que não chove?
Não chove em mim, não chove em mim,
Eu não quero sair molhado.
Me deixa sozinho, sou desajeitado,
Mas isso é irrelevante,
Em uma roupa nada elegante,
Eu sou o pedaço de alguma inspiração...
E se eu gosto?
Não tem discussão.
Me pegue com força. Batata da perna.
Sopa escaldada, mais um caldinho quente.
A boca perdeu um dente,
E eu me perdi.

By: Vinicius Osterer
Feito em 24 de março de 2017.

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