O Incêndio De Placência

Feito em 31 de agosto de 2011...


As madrugadas são tão maravilhosas aqui em Placência.
O tempo para no instante e nos melhores momentos.
O escuro da noite é tão intenso, é denso,
Fico aqui a me deleitar com o escuro e a solidão.
Como é bom estar aqui. Como é bom viver na madrugada.
Meus olhos não vêem um palmo da minha frente,
Mas meu coração sente a emoção de Placência.
Como de relance para o olhar, o escuro se faz luz,
E avisto um incêndio, grito a Deus e a Jesus,
O que posso fazer se nem telefone eu tenho?
Os momentos são tensos, e eu olho.
As chamas consomem um prédio!
O que há ali de tão especial senhor fogo?
A cidade acorda aos gritos das sirenes e pessoas,
Que se jogam desesperadas das janelas,
Achando a salvação entre a fumaça.
Oh meu deus! Por que tanta desgraça?
Enfim a água tenta solucionar o problema fogo,
Mas as pessoas como em um terror constante,
Pegam fogo nas janelas aos gritos, aos prantos.
Eu ando de um lado para o outro, tentando ajudar como posso.
Mas de nada adianta. Sou incapaz, o frio lá fora não ajuda.
Vou para meu piano da janela e toco ao mundo a tragédia,
Um coro entoado aos gritos e melodias dramáticas,
De uma noite assustadora, porém fantástica.
Eu vejo no olhar dos que se jogam um alívio,
Como se soubessem do mau que foram salvos,
Desse mundo frio e vazio das madrugadas.
Meu piano faz o som da madrugada.
Sou livre, o fogo queima. Não posso fazer nada.
Eu sei qual é o sentido da palavra viver.
Irônico é o fogo que só faz é aumentar e crescer.
Como pode acabar assim uma noite tão mágica de alegria?
As pessoas queimam por não saberem a solução,
Do problema da vida e da coragem.
Elas caem uma por uma. Queimadas ou agonizando.
Não posso fazer nada. Observo a tragédia.
Quem sabe ainda tenha solução, ou salvação.
Começa pelo fim do corredor, e encobre as escadas,
Fecho a porta na esperança de poder conter.
Isso é irreal. Isso não existe. Olho para meu piano e aguardo.
Ele corre veloz em um coro.
Ele queima a porta e se transporta para minha madrugada.
Não agonizo e continuo a tocar meu piano.
Estou feliz, a escuridão é minha. Minha fria madrugada.
Agora vejo felicidade no meu rosto.
O fogo me cerca. E começo a sentir o seu calor.
Olho para baixo a fumaça. E mais pessoas desesperadas a se jogar.
Crianças caem da janela. O mundo de todos um dia irá acabar.
O alívio é ver o piano em chamas, antes do meu corpo se incendiar.
Sinto algo afetando meu corpo. O equilíbrio se vai.
O chão é um inferno. Os gritos são ardentes.
Um diz não. Mas ele queima. Eu sorrio e queimo.
Sinto meus nervos queimarem aos poucos,
Perco os cabelos em mais pura felicidade,
Como são boas as noites aqui de Placência.
Meu rosto, meu corpo, por que tantas bolhas?
Meu piano, minha sala, meu gato e minha madrugada.
Eu ainda sei o que é viver. Ainda sei.
A fumaça que me sufoca. Os gritos de dor dos vizinhos agonizantes.
O céu é cinza fumaça. O chão é vermelho inferno.
Tudo que sempre sonhei foi assim. Tranqüila madrugada.
O inacreditável momento da solidão e frio.
A transformação da companhia das chamas com seu calor.
Meu corpo hoje é preto. E nem sei mais quem sou.
Estou perdido pelas madrugadas? Porém ainda vivo, eu sei viver!

By: AyKe.AeRa.

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