Crime Perfeito

Me deixe em branco. O futuro é agora.
Olhe para cima, alguém por você chora,
São lágrimas pesadas e prateadas, gotas de chuva,
Pastilhas de menta com sabor adocicado de uva.
Me deixe em branco. Foto de perfil sem identificação,
Um garoto vinte e três perdido e sem inspiração.
Cadê?
Para onde foi?
Eu não sei. Não tem como saber.
O mundo me apunhalou pelas costas.
Estou sangrando por dentro do meu peito.
Está tudo pesado neste exato momento.
Cadê? Cadê? Eu não sei. Eu não sei.
Eu tentei não chorar, mas eu não suportei.
Me deixa em branco.

Eu preciso de férias do Vinicius.
Eu não quero mais isso para mim.
Parece arriscado não deixar indícios,
Mas este crime aconteceu até o fim.
Cadê?
Foi embora. O futuro é agora.
Eu não sei. Não, nem tentei saber.
Me deixa borrado para desaparecer.
Me apague com uma borracha,
Com um corretivo, me amassa e me joga no lixo.
Me deixa leve, mas não seja o meu vício,
Eu esquartejei a minha certeza.
Cadê a minha firmeza?
Eu não sei.

Me deixa transparecer um pouco mais de verdade,
Sair com a cabeça erguida para o centro da cidade,
Evacuar as fronteiras dos olhares de maldade,
Poder ser um pouco mais leve, menos denso, mais ferro.
Para onde foi tudo aquilo que eu quero?
Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei...
Não diga que eu não fiz, não diga que não tentei...
Cadê?
Cadê a rima?
Cadê?
Me deixa aqui onde posso ser feliz.
Onde posso viver.
Me deixa aqui sem explicação,
Nessas frases sem ponto, sem ênfases e travessão.
Sem ponto, sem vírgula, sem negação,
Sem a porcaria da palavra aceitação.
Cadê?
Eu não sei.
Por que eu deveria saber?
Me deixa borrado para desaparecer.

Abre os olhos e respira,
Abre os olhos e não pira.
Essa dor já vai passar.
Olhe só, está passando...
Limpe os olhos para sonhar,
As coisas um dia acabando chegando.
Mas cadê?
Me deixa em branco!
Não faz sentido me preencher com estas palavras – diz a folha.

By: Vinicius Osterer
Feito em 18 de novembro de 2016.

Comentários

Postagens mais visitadas