Amor Sem Retina

Cego. Estou cego. Tudo está meio escuro, mas perceptivo.
Estou um pouco mais surpreso e muito mais adaptativo.
Não consigo cerrar os meus dentes para tirar a minha pele,
E que este poema faça aquilo tudo que eles não querem.
As suas palavras caíram com um poder destrutivo.
E as suas lágrimas rolaram por algum motivo.
E ainda assim não consigo tirar a minha própria pele,
Pois este poema é um alerta para que não espere,
Existe um mundo que se vê nos olhos e nas pessoas.
Isso não é mais sobre um sentimento,
É sobre aquilo tudo que eu sou,
E pensei até por um momento,
Que eu sou tudo o que me restou.
Aceito a minha condição de não amante,
E aceito a minha condição de condenado,
Por que não queria ter um sorriso massacrante,
Apenas para viver por um amor sendo amado.
E se não amo? E se tiver problema de retina?
E se quiser um pouco disso que se chama adrenalina?
Estou ensopado e doente, por que peguei uma gripe de tristeza.
Afetou os meus sentimentos e me abalou como uma fraqueza.
O que me resta é a vida sem a pitada de delicadeza,
E um sentimento cego, para comer de sobremesa.
Eu sou educado até o ponto de dizer que não me ame,
Que não insista com palavras, que não me ligue e nem me chame,
Eu não sou uma abelha, mas posso ser um enxame,
Uma oração invertida, por isso eu peço que nem reclame.
Viva o que tiver para viver, e não me cobre uma conta atrasada,
No fim é a morte e você, com seus problemas e mais nada.
Recuperar a visão e não ser cego.
Se amar antes de tudo e depois amar isso não nego.
E se ainda assim eu quiser me multiplicar,
E por um processo químico me destruir para escapar,
Dos meus problemas que são todos os meus?
Espere que a hora vai chegar,
Com tantas lágrimas eu vou me afogar,
Por motivos que não são seus.
E no fim essa dor de retina,
Não era por falta de endorfina,
Mas por eu não amar a minha dor.
E se você menino ou menina,
Sair de trás da sua cortina,
Irá me ver com muita cor.
Um azul, um amarelo, um verde e um canto,
Nosso senhor pode até ser um santo,
Mas eu ainda serei um ator.
E no fim, com uma lástima profunda,
Quando a água bater na minha bunda,
Saberei aproveitar o meu terror.
Do que os meus problemas são feitos?
De poemas quase imperfeitos,
E da minha total desilusão.
Comecei com uma prosa abstrata,
Acabei com uma rima barata,
Sobre como acabar com a escuridão.
E neste jogo quase incerto,
Eu irei ficar quieto,
Por que não tenho mais visão.
Pois bem. Entre um drama barato e vendido,
Passei a recalcular a minha fala.
Antes não retribuir um amor bandido,
Do que amar metendo uma bala.

By: Vinicius Osterer
Feito em 14 de julho de 2015.

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