Falando de Boca Cheia

Tenho medo de abrir a boca e a voz sair,
Como um grito apático, anêmico e sem força.
E aquela nuvem? Aquela casa? Com o que se parece?
Comigo? Nós somos apenas moléculas e matéria.
E se eu gritar? Se a voz sair tão alto que me assuste?
Eu não sou mais o mesmo garoto arúspice?
Eu não sou mais o homem amargo e aguado?
O chá castanho e tão aguado,
Meu cabelo já amarelado, já acabado.
Eu estou me expressando enquanto estou enjaulado,
Preso? Aquilo é matéria? Cadê o universo?
Está dentro da minha voz, do grito, da minha alma,
Rodopiando como um pião de madeira de criança.
Bailarina pequenina em uma caixa,
Tão matéria e cor de rosa que me desola.
Tenho medo de gritar, não me amola!
O tempo da nuvem e da casa passaram e foram embora.
A boca gira com os dentes, a voz entra e não fica.
A matéria da cabeça está me deixando pessimista.
O louvor pelo meu nome, estão gritando,
O que fazer?
Isso é matéria ou tão imaterial quanto o ar?
Mas o ar não é matéria?
Eu falei com minha boca cheia de matéria,
Completa com as palavras.
E se não vingar? O que está me acontecendo?
Estou virando uma massa ou estou me desfazendo?
Estão roubando a minha massa atemporal?
Já não levaram a minha massa cinzenta?
Por que eu fico com esta cara fechada, apática e burrenta?
E se a voz sair e nunca mais entrar?
Como poderei sorrir sem poder me expressar?
O grito vem até a garganta e não desce,
Não sobe e não sai do mesmo lugar.
O que fazer para não me engasgar?
Tomar água e encher o espaço vazio da matéria?
É o ar ou a alma que me preenche?
Se ar é alma então estou inserido na alma universal?
Eu preciso destruir aquela nuvem, aquela casa, aquele céu,
Com um raio ou um tornado em pleno mar,
Mar amando o mar de amar,
Como um grito afônico que não sabe gritar.
Mas o ar não é matéria?
Feche esta boca seu mal educado!

By: Vinicius Viniver
Feito em 30 de julho de 2016.

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