Ereção Mal Amada

Ei cara! Eu me apaixonei por sua bunda,
Porque todo mundo hoje tem cara de bunda,
E você não é nenhuma exceção meu caro!
Ei moça, os seus olhos são mais azuis do que uma piscina de fibra,
Com toda aquela água tratada com cloro e turva,
Com gosto de sal marinho e transparência que chega a dar nojo.
Todas as bocas que se beijam hoje têm o mesmo gosto,
De cigarros e de bebida sem gelo.
São como uma meia ereção,
Ou uma breve e rápida ejaculação precoce.
Cansei de comer a mesma carne,
E ter os mesmos desejos sexuais, pelas mesmas pessoas.
E este breve coito que interrompe meu almoço,
É bem melhor do que uma salada mal temporada,
Apenas com sal de 1,50 e vinagre azedo e tinto.
Hoje eu simplesmente acordei querendo que o mundo inteiro,
Vá para merda, vá para a merda de um lugar bem longe,
Distante desta galáxia, para outro universo,
Vá para a merda! Como isto é libertador!
E merda parece uma palavra frequente no meu vocabulário,
Sujeito de merda, vida de merda, cidade de merda, tudo à merda!
E eu sou uma pessoa de droga, sem religião definida.
E eu sou uma pessoa à toa. Alguém que faz pelo sentido,
Faz por acreditar e não por querer alguma coisa em troca.
Eu vejo por todos os lugares os amores que não quero ter,
Aqueles que são superficiais como as piscinas infantis,
Que mal molham as canelas e não refrescam o nosso corpo.
Gosto dos amores profundos e densos dos oceanos,
Daqueles que não se encontram nos livros,
Por que não são fictícios e rasos, mas escassos e exclusivos,
Permitidos aos poucos que se deixam levar pela vida,
E não que vão levando a vida pela mercê das consequências.
E hoje eu quero corpos nus na minha cama,
Quero esta totalitária e autoritária vontade de me perder entre peitos.
Quero os braços e as pernas e os cheiros dos cabelos.
Quero provar o que os mercenários provam sem usar os dedos.
Porque as pessoas têm caras de bundas e olhares artificiais,
E se parecem todos tão iguais,
Que às vezes prefiro um livro e uma xícara de chá com bolachas.
Na velocidade hightech desta era tão informada,
Tão medíocre e obcecada por padrões de consumo,
Eu acabo me tornando uma pessoa mal amada,
Que às vezes se perde, então eu acendo um e fumo,
Porque é puxado de mais viver com estranhos por todos os lados,
E vai saber se o estranho não sou eu?
Hoje eu quero mandar à merda quem é contra mim,
E dizer que sim! Dizer que enfim eu existo!
Existe em mim um menino cada vez mais novo,
E um homem cada vez mais maduro.
E estou ficando cada vez mais profundo e turvo,
Que não é feito para alguém que não sabe nadar direito,
E me adoro por que isto tudo é tão imperfeito,
Que se encaixa exatamente naquele pedaço de mundo que eu me tornei.
Sou apenas uma fatia de torta de maça açucarada,
Ou um fio de um casaco quente que usamos no inverno,
Naqueles dias frios de vida e de vontade que nos abate,
Que nos restringe ao combate,
Mas são obras primas de um futuro dia ensolarado de verão,
E de um orgasmo intenso de palavras seguidas,
Por que é assim que eu penso e é assim que eu sou.
Ei cara! Eu me apaixonei por sua bunda,
Porque todo mundo hoje tem cara de bunda,
E você não é nenhuma exceção meu caro!
Vá para a merda! Como isto é libertador!

By: Vinicius de Góis

Feito em 31 de maio de 2016.

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