Espelhos Quebrados

Eu não sei. Acho que já morri tantas vezes nesta vida,
E já deixei tantas versões de mim mesmo para trás,
Ontem tive um pesadelo, com a morte envolvida,
Acordei culpado, com uma questão que me tirava a paz.
E se nós cometemos o erro de dar a morte à outra pessoa,
Se somos egoístas ao ponto de enxergar apenas o que queremos,
E deixamos a existência abandonar o próximo à toa,
Sem a ajuda necessária que devemos dar e não demos?
Não sei mais quantos sonhos eu tive ontem de madrugada.
Não sei mais quantos sonhos eu ainda vou perder.
Não sei quantas vezes me sentirei como um nada,
Ou quantas vezes ainda vou mudar e vou crescer.
Tantos cacos de espelhos que já miraram a minha imagem,
Alguns semblantes bons, fortes e outros confiantes e estranhos.
Quem sabe roubaram a minha alma por uma passagem,
Se apoderaram de mim como em outros bons sonhos.
Eu vou pisando entre os vidros, por que eu sou um espiral,
A alma é eterna! Isso sempre fez sentido, estou jogando contra o mal.
Eu jogo com peças pretas sendo bonzinho,
Lutarei contra o rei branco no jogo de xadrez,
E não me importo se for uma peça e ficar sozinho,
Eu calculo os meus movimentos quando é a minha vez.
Acendo os candelabros do meu juízo. Aprendo a viver como jogador.
As coisas não precisam fazer sentido, precisam serem feitas com amor.
E se o segundo sol de Cássia Eller chegar,
Estarei disposto a não olhar para o céu que será claro.
Alguma estrela ainda há de brilhar,
Quando eu estiver denso, fumando um cigarro.
Todos os dias são pintados os espelhos, mais velhos do meu rosto,
E a minha alma não consegue ceder à velhas tentações.
Eu agradeço à Deus e rezo com muito gosto,
Para tentar vencer à roda das encarnações.
Queria ser massa escura. Queria ser antimatéria.
Queria não ter forma, não ter existência, não ter uma figura de mim.
Queria não ser uma imagem tão séria,
E poder refazê-la com muito zelo até o meu fim.
Sempre sobram vestígios do que eu já fui anteriormente,
Sobram fios de outras cores de cabelos já pintados.
Hoje eu sei que o passado é um caco dentro da mente,
De outros alter egos que já foram usados.
Tem vezes que a imagem assume a minha forma,
E não entendo mais o que é físico e o que é espiritual.
Mas já me alertaram para seguir uma única norma,
“Jogar com as peças pretas para superar o adversário do mal”.
No fundo nunca quis viver ou fazer parte da existência,
Mas isto é uma outra conversa, que eu já tive sobre a decadência.

By: Vinicius de Góis
Feito em 14 de Abril de 2016.

Comentários

Postagens mais visitadas