São três da Manhã de Novo
São três da manhã de novo. O meu pão com peito de peru não tem o mesmo sabor que já teve, estou acostumado talvez com este gosto? Há meses não sinto o gosto da fome. Estou passando por um teste de sobrevivência? Para onde foram os meus medos?
Talvez eu tenha um fascínio enérgico pela dor e tudo que for similar. Por quê? Porque sim. Porque não seria diferente se não fosse comigo, esta série de erros em progresso. Que delírio! Que fascínio! Talvez um dia a poesia me liberte, acertando a minha cabeça em cheio...
Não é tarde para erguer uma rosa, desligar a televisão e sair debaixo das cobertas. Parar de ouvir os sons da madrugada e caçar estrelas cadentes, mortas e brilhantes, distantes do que o meu coração grita alto: seu nome e um sobressalto, risquei três vezes da capa do livro!
E bebi meu café preto porque queria mais o escuro. Apaguei a luz da cozinha e me joguei em outro verso, um que é sobre mim e sobre a coisa toda que não posso ser. Meu corpo batendo contra todas as letras de um teclado sem fio e morto, como uma caixa enterrada com as minhas lembranças no fundo do quintal.
QUE FEIO! DESISTA DE SI MESMO!
Talvez. Mas não hoje.
São três da manhã de novo, e o tempo não para. Um dia já estive embriagado nos tons de teus olhos, e hoje me contento com um sofá, um copo vazio e um coração de pedra. Talvez... Mas são três da manhã de novo e dentro do meu peito tem um cata-vento de papel, colorido com as cores que não pintei o meu cabelo.
Bata com força na minha filosofia, com paus e pedras e toda a amargura de não tomar um café da manhã. Quebre minha cara e me arraste nas pedras, não tenho nada a perder, só as horas...
Teve um dia que dormi. Dentre todos os dias que vivi. Dormi tanto que perdi até o ar, gritei e não conseguia acordar... Estou medicado? Quantas doses e quantos fiascos eu ainda preciso fazer? Talvez eu precise mais da sua boca e não saiba. Em qual alfabeto você se encaixa?
Talvez. Mas não hoje.
São três da manhã de novo, e este silêncio é maçante! Se eu abraçar meu travesseiro fofo neste instante, eu consigo parar o tempo e flutuar. Explodir toda a espuma em mil e dois pedaços perfeitos. Ovos mexidos com cebola, salsinha e orégano. Desliga o choro e vem contar estrelas comigo!
Talvez um dia a poesia me liberte, e você seja o travesseiro todo amassado. Do clube dos corações solitários e quebrados, estive a dois passos da demência. Mas não hoje, não hoje... Estou florido com cravos e margaridas, na capa do jornal do domingo:
O HOMEM AMOR ESTÁ MORTO! O HOMEM AMOR MORREU...
O HOMEM AMOR ESTÁ MORTO! O HOMEM AMOR MORREU...
Dia 15 de Setembro de 2017, Vicenzo Vitchella.
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