Meia-noite da Morte


Tua boca é poesia. Quase encanto:

Leviatã infernal de olhos esverdeados.

O cabelo escorrido como em pranto,

Sobre um punhado de memórias e passados.

Deita-se na cama, prepara o funeral –

A noite estrelada silencia a peste

- Celeste!...

Então me fala.

Entrego-lhe minha mão fechando-me em luto.

- Entenda, bem sabes... Amo?

- Foi embora com teu cavalo! – secundo.

- Em guerra lhe vi, com fome voltei...

Silenciamos parecendo cadáveres.

Repousa nas vegetações rasteiras grilos,

Vagalumes alumiando o pedestal terreno.

Ao longe duas colinas – de fundo.

- Cicuta! Cadê o veneno?

Meus olhos envenenados respingam

Sobre os olhos de Leviatã cansados

Minguados entrelaçamos os dedos

Com os lábios todos ressecados.

- Tua boca é poesia!

- Teu coração é ingênuo – me responde.

Domesticada e arredia eu choro,

Mantenho a luz apagada.

Ouço os passos de outras festas e choro,

Inundando a madrugada.

Do alto da ladeira, vinham funerários

Os amigos, os comerciantes e os devotos.

Em procissão levavam os extraordinários

Caixões de seus amores todos mortos.

A parede vermelha-amarelada – cortina carmim:

Neblina entrando pelo buraco do vento.

Tramando com a noite, o relógio em mim

Resolveu não acelerar o tempo.

- Teu coração é ingênuo, teu coração não merece...

Na cama que fazíamos amor

Havia um cadáver

Via um cadáver

Um cadáver

Ver

- Celeste!...

A noite estrelada.

 

By: Amy Catacumba Waves

Feito em 21 de março de 2021.

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