Não (HÁ)ha Fuga

Não há uma fuga. Essa crise ética, moral e social está me desgastando. Como cidadão não quero mais ouvir e ver nada sobre isso. É uma brincadeira ou é sério toda essa balela que me fazem engolir diariamente pelas mídias sociais?
Não há uma fuga. Acreditar que eu posso entrar em uma faculdade e ter mercado de trabalho profissional. Nem sei se estou na condição de imigrante, fugitivo ou refugiado. Não há fuga. Me afundo no cinismo de minhas mentiras, e grito antes de dormir para meus travesseiros: não tem como fugir!
Esse é o meu papel de homem da raça ser humano. Aquele que precisa sentir um punhado das coisas que não quer, pensar em um punhado de coisas que não deve, fazer um bocado de escolhas que não sabe para onde e no que vão dar. Me pego sentindo o amor por olhos outros que não os meus, e decidindo se devo jogar tudo para o alto e seguir meu caminho sem ser questionado. Afinal, a vida é minha, quem dita as regras sou eu.
E se o meu sistema pessoal jurídico estiver prejudicado com visão curta? Nesta coisa toda patética fico perdido. Talvez não esteja preparado para o fato de que não há fuga de si mesmo.
Não há fuga do fato de amar iguais e diferentes, nem do fato de estar em outra cidade tentando mudar a vida e dar prosseguimento aos próprios sonhos. Não existe uma fórmula mágica para sorrir todos os dias, para não ter uma doença crônica, ou não estar na roda do carma. Não existem explicações lógicas de você detestar alguém por ele ser alguém, de você gostar de alguém por ele ser alguém, e se o alguém que ele é não passar de um personagem?
Eu sou um personagem. Às vezes até não me cabe o papel de humano. Não me cabe cor alguma, não me assenta em nada o amarelo, e insisto em vestir verde. Insisto em fazer escolhas, insisto em amar quem não se deve, escrever sobre o que não se escreve, gostar de ir quando todos estão vindo.
Não é mais minha cor de cabelo, nem sobre quem sou eu perante o espelho, é sobre meu homem de vinte e quatro anos camuflado atrás de uma cortina velha e transparente, repleta de flores de plástico.
Não há fuga. Você não vai achar uma saída dentro de um copo de bebida, em uma festa do final de semana, em um manual de técnicas e ferramentas, em uma revisão bibliográfica do tema de pesquisa, em um ônibus a caminho de casa, nas conversas e besteiras com os amigos...
Não há fuga. Você não pode fugir do que é real com irrealidades esporádicas e momentâneas, criando um caminho de pedras douradas que lhe leve para ver o grande mágico de Oz. Não há fuga nem dentro do próprio sonho. Inconscientemente eu tento. Tentar é minha forma de sobreviver.
E no mais tardar de hoje, talvez entenda que este serei eu até que outro eu não o seja. A vida é movimento, às vezes pendular, indo para frente e para trás. A vida é movimento, às vezes em sentido horário, somando minutos e mais minutos, temporalidades e sucessões das escolhas. A vida é movimento, e ficar parado não é estar em inércia. Talvez seja apenas meu corpo em repouso, tentando dormir quando o sono não vem.
Há uma fuga? Achei um paraíso temporário para a minha permanência. Um oásis no meio de tanta insegurança e frustração. Cada um pode ter o tamanho e a grandeza que quiser, dentro de qualquer forma. Estou abrindo outras portas e levantando as pedras primordiais para construir o meu castelo, que chamo carinhosamente de existência.
Não há um meio de viver e parar de fugir? Talvez por hoje o personagem que sorri não me assente bem, e só por hoje você tenha convalidado um sentimento do qual não fujo, pois não sou de fugir à toa. Por mais que isso machuque, não há uma fuga. Me pego sentindo e não tenho como sorrir por isto. Este sentir todo não sou mais eu, sou eu e mais um.

Dia 07 de Março de 2018, Vinicius Osterer.

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