Rancores e Nomes

Tantas vezes paro por um determinado tempo pensando sobre o que escrever. E escrever tem que, pelo menos para mim, ter um bom motivo. E acho que precisava escrever por este: para dizer que lhe quero bem, mesmo não o conhecendo.
Estou colorindo minha poesia para o mês de Julho com todas as tonalidades possíveis. E poderia pensar que a vida é injusta, que eu nasci para sofrer, que tenho lições cármicas pesadas. Mas prefiro acreditar que existe mais vida do que qualquer outra coisa. Mesmo que essas outras coisas pesem e façam os meus joelhos dobrarem, minhas mãos se juntarem, e meu coração pedir fervorosamente que aquele mesmo Deus que fez o céu e a Terra, o mal e o bem, possa se convalescer do meu sofrimento.
Bonito para mim não é um perfil daqueles invejáveis nas redes sociais, com um milhão e meio de fotos e amigos perfeitos, nos lugares perfeitos, fazendo as coisas perfeitamente calculadas. E hoje disse mais uma vez que aprecio todo e qualquer ser humano que fez sucesso por não ser aceito em sua totalidade. Talvez por que eu carregue um peso insuportável nas costas, dos meus dilemas, traumas e todas as coisas que tento me livrar todos os dias, aqueles pensamentos destrutivos que nunca fizerem bem para os meus olhos verdes, que ficam escondidos atrás de tanta existência e mistério.
Será que existe na face da Terra alguém que deseje por mais trágico que seja amar? Amar sem justificar que deixou de valer alguma coisa após tantas vezes que ficou ferido e machucado. É difícil e complicado? Quem disse que é fácil viver?
Passei a ser uma agressão. E cansei de ser o homem com rancores e nomes na cabeça. Queria preencher estes espaços com coisas que fossem mais produtivas e úteis. E esta produtividade e utilidade me carrega de deveres que são pesados, complicados de se entender ou desmistificar. Acabo sendo apenas uma agressão.
E se vou acabar meu artigo? Sim amanhã eu vou. Eu vou colocar uma roupa com mais cor, uma daquelas que eu tenho aos montes no armário, mas que não condiz com nada que esteja na moda. Eu não estou na moda. Eu não sou nenhum padrão. Se bom ou ruim? Depende dos dias. Preciso realmente sair de casa e sorrir? Preciso sair daqui deste lugar onde eu posso ser o que quero? Onde posso existir em cada canto e cada linha que coloco sobre um papel?
Eu não quero mais tomar remédios, usar símbolos, rezar e fortalecer a minha alma. Não quero ter que me preocupar se meus cabelos estão alinhados, hidratados, com a cor perfeita sem desbotar. Não quero mais viver para ter que provar que sei fazer o que faço, que amo projetar espaços, poesias, sorrisos e vida. Cansei destas coisas todas.
Preciso do vento sobre o rosto, aquela coisa inconsequente que faz a gente desapegar dos sentimentos baixos, das pessoas que não poderemos nunca ser. Eu nunca vou poder ser uma pessoa padrão. Não vou poder me encaixar dentro de uma opção, por que eu gosto de ser as minhas próprias possibilidades. Enquanto isso vou sofrer pelas pessoas erradas, amando quem não deve ser amado, e celebrando aquilo de bom que as pessoas vivem, o que elas são quando simplesmente desejam ser sem deixar vestígios e pudores.
Quando eu for embora me prometa, com todas aquelas luzes coloridas e todos aqueles drinques e conversas desconexas dos bares, que você vai ser feliz, vai fazer o bem para si mesmo, vai existir e vai acontecer. Ás vezes sinto que isso não é para mim. Não se preocupe, eu ando sóbrio o suficiente para ser assertivo. Mais amor pelo colorido, menos amor pelas coisas fúnebres e utópicas.
Ainda estarei por aqui, achando motivos para escrever, nem que seja para dizer: “Não te conheço mas te amo! Não te entendo mas não preciso entender! Eu lhe quero bem! Lhe quero desta forma!”. Talvez precise ser mais cordial e menos agressivo, sem justificar meus atos pelas atitudes externas.
E hoje, só hoje, eu posso ser um motivo. Cansei dos meus rancores e nomes.

Dia 26 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.

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