Ordem de Natal
Primeiro
coloco a árvore, depois os enfeites e todas as luzes. Bem no topo daquele punhado
de verde sintético uma estrela, com um punhado de cores para todos os lados.
Vejo por ordem que a mais cativante é a dourada, daquelas bolas todas que
juntas já são um perigo, então imagine juntas!
Depois vem
um punhado de gente, de todos os lados, dizendo com um sorriso: Feliz Natal!
Comem adoidado, bebem como se não houvesse o amanhã, trocam presentes e
lembranças. A vida vermelha e branca tem compaixão por sorrisos que sejam
abertos e explícitos.
Como tudo
isso está desorganizado?
Coloco a
roupa mais bonita que tenho, aquela que comprei na liquidação do natal, com um
preço para lá de camarada! Talvez paguei com meu décimo terceiro salário,
talvez nem comprei e ganhei de amigo secreto, talvez ainda nem tenha lembrado
que ela estava lá, e resolvi virar as roupas e achar o que estava bem no fundo
do armário. Não parece desordem.
Rompido.
Quebrado. Natal?
Talvez não
perceba que seja apenas a minha fantasia de homem humano que está fazendo eu realizar todas essas coisas. Mas quem me garante que não exista um natal para coelhos,
para cachorros ou gatos? Quem me garante que isso tudo fantasiado não é apenas
uma maneira tola de lembrar que sem toda esta palhaçada ordenada dentro de 365
dias, eu apenas nasço e morro e mais nada.
E mais
nada?
É triste
ter depois um nada. É triste porque eu fui tantos dias uma fantasia de ser
humano cheio de horários, cheio de roupas, tendências, coisas e mais coisas que
não me caracterizavam como outro animal que não um homem, para depois não poder
saber nem se o nada é bom, ou se não estou (olha que patético tudo isso!) apenas
vivendo dentro de uma ficção inversa, onde quando eu morro eu apareço no lugar
de onde eu venho, e que lá é onde eu vivo de verdade, que aqui não era nada
mais do que uma celebração de fantasiar saber sobre tudo, ordenar e colocar
significado em todas as coisas.
E se eu
for mais do que um simples significado?
Se eu for
mais do que um ser humano? Não posso ser um Deus, pois se fosse um eu saberia.
Não teria que me locomover, me sustentar, e sentir tanta coisa. E sentir não é mais
como aquela vez que sentado embaixo da árvore eu olhava para as caixas de presente
esperando abri-las, e passava o resto da noite com o que seria meu para todo sempre.
Esse
sempre era mentira. Meses depois o sempre não era sempre. Anos depois nem mesmo
a caixa tinha os mesmos embrulhos e surpresas. Tinham roupas que me lembravam
que fantasiava um homem-homem, que em breve deveria ter sua própria família e
convencer seus filhos de que seriam felizes para sempre.
E depois,
mais nada?
Jesus não
nasceu em 25 de dezembro. Eu também não.
Eu nasci
quando descobri que era apenas uma fantasia, ordenada dentro de um dia diferente
para cada ano.
Dia 23 de Dezembro de 2017,
Vinicius Osterer.
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