A Coroação de Um Outono Gelado
Lá estava ela. Com seu manto bicolor
azul e negro.
Rodeada pela noite escura e pelas
constelações universais.
Seus lábios cerrados e finos
escondiam um segredo,
"Amai-vos, uns aos outros"
como seres espirituais.
Anjos negros, de asas douradas
cruzavam um céu de nuvens brancas,
Com texturas aveludadas feitas pelas
mãos de Deus tão santas.
E a virgem Maria era a dama do
universo Nuit ou como queira,
Uma dama universal, senhora mãe do
que me rodeia.
E aquele lindo anjo, doce anjo
bicolor que não sorria,
Estava coroado pelo frio que o
cercava,
Em um Outono perfeito que nunca mais
se via,
E onde nem mesmo o tempo modicava o
espaço em que estava.
E veio até a mim olhou em meus olhos
e disse:
"Onde mora a senhora vida que
você habita?"
"Eu não sei para onde ela foi.
Ainda não chegou a minha hora" respondi.
"Eu sou o anjo da morte, não me
deixe com a mente aflita!"
"A minha vida não precisa
de sua coroa, vá embora!" eu menti.
Ela olhou para os lados, abriu suas
asas e me disse adeus,
Eu lhe mandei um beijo sabendo que
iria voltar,
Chamei pelo universo que é o meu
senhor e meu Deus,
A vida não precisava ser coroada para
mim não mais voltar.
Não se volta do mundo dos mortos
sendo o mesmo que se era,
E estou satisfeito com isso tudo que
eu sou,
O anjo da morte com sua coroa e olhos
de uma fera,
Um dia voltaria para buscar o que ele
hoje ainda não levou.
E nesta madrugada fria, de um Outono
gelado,
Encontrei a minha vida para me manter
mais aquecido,
A morte coroa um homem que quer ser
iluminado,
Pelos feitos em que nunca foi muito
bem compreendido.
A beleza dos olhos divinos dos anjos
seduzem,
São brancos como as brumas do mar
ainda intocado,
A voz melodiosa, que eles emitem nos
induzem,
A sermos rigorosos pelo padrão do que
não pode ser alterado.
E ficamos parados dentro de uma
Capela barroca que queima,
Rebuscados pelas vozes e pelos
brilhos que fascinam,
Nossa velha opinião que aparece sempre teima,
Pela luxúria e obrigação da coroação
que nos ensinam,
De que a vida é luta, é vida que deve
valer alguma coisa na morte,
Vida só é vida se o sucesso e o dinheiro
aparecerem de bom grado,
Para os poucos infelizes que vivem
dentro desta enorme sorte,
A morte coroa e transforma em santo o
que é pecado.
Não quero redimir minhas palavras
escritas,
Nem blasfemar contra a minha
religião,
Cansei de ler e rever as minhas
antigas listas,
De textos contra tudo que sempre foi
cristão.
Não é que fosse um demônio, era um
jovem sem esperança,
E não é que não queira o trono, quero
mais do que isso.
Quero desde de quando eu era uma
criança,
Fazer mais e mais coisas, criar algum
certo rebuliço.
E volto para o que disse no início:
Lá estava ela rodeada por estrelas e
seu manto,
Seu olhar infernal de um inverno sem
encanto,
Acompanhada de seres alados e
bestiais,
Com todos aqueles que foram os pais
de meus pais dos meus pais.
E vi quando abriu sua boca com sua
voz recitando sete línguas,
Abriram todas as mágoas de minhas
tantas outras vidas,
Mas não quis a coroa e nem a glória
de meu nome,
Ainda era muito cedo para deixar de
ser um bom homem.
Então eu vi que ela passou para o céu
sua cor,
Levou embora com ela os meus
antepassados e meu rancor,
Porque desta vida não se leva nada,
só se leva experiência,
Com uma pitada do amor, do amor pela
própria existência.
By: Vinicius de Góis
Feito em 24 de Maio de 2016.
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