Crônico[a] de Carnaval

Bem, se você está lendo, com alguma certeza (não uma absoluta), está passando o sábado de carnaval em casa. Passando os olhos pelas redes sociais, cansado de erguer as pernas para cima e não estar em um bloco de carnaval, rindo, bebendo, se divertindo com seus amigos. Não se assusta mais com os amigos saindo da quarentena e furando o isolamento social - alguns deles, se forem como os meus, nem saberão desta nossa conversa (os meus não prestam atenção alguma no meu trabalho). Então você começa a pensar que não batem os discursos que esses "furões" pregam, sempre repreendendo o mundo e questionando a ordem proposta - não pode ser certo alguém pregar o fim do capitalismo, as mazelas de terror psicológico, as injustiças de gênero e social, mas "agrupar" de forma consideravelmente danosa. Não entra na cabeça. Então você pensa: "Bem, cada um tem seus próprios motivos. Você mesmo, saiu fim de semana passada e foi no bar, não conseguindo mais permanecer brigando com o próprio pai, é hipócrita de sua parte apontar o dedo em um sábado de carnaval!" e você também lembra então, que no meio do tal rolê começou a se sentir o mais horrível dos seres humanos, pois poderia a qualquer momento encontrar o vírus na esquina, levar para sua família, se "enviruzar" todo, justo você - aquele que lutou tanto tempo com sua doença crônica e largou um emprego para se isolar. É, talvez você não conheça mais seus amigos - e não é culpa deles. A culpa é sua de ter ido morar em outra cidade, e raras às vezes perguntar como eles se sentiam. Eles também não perguntavam como você estava. E acompanhar a vida de alguém pelos stories de redes sociais é a maior mentira que já inventaram na história da humanidade. E o peso que carrega parece que é o peso de um super-homem. Se nem o governo se importa com a crise sanitária, porque eu devo me importar? - Isso sempre passa em sua cabeça. E é dolorido entender que o governo não se importa pois não governa por todos e todas, mas por si e os seus. E os seus, estão em festas, mudando o país em discursos e palestrinhas, indo na contramão de qualquer ação. Uma ação coletiva? Para quê? E dói mais este sentimento do que não estar pulando carnaval nenhum. Percebe-se fixo, sozinho no quarto. você conhece todas estas pessoas do seu feed? - se pergunta. Negativamente lhe vem a ideia de desconhecer até os seus. Os seus também lhe desconhecem - pois estarão curtindo o link e não lendo o que está escrito dentro dele (e isto acaba servindo para um punhado de coisas)... E sem absoluta certeza, quer viver até a quarta-feira de cinzas, lutando contra os seus e os deles - pensando no "Nossos". Talvez a única coisa festiva hoje, seja o bicho de duas cores no teto - e bem, ainda ter um teto, ainda estar vivo...

Vinicius Osterer, 13 de Fevereiro de 2021, Fco. Beltrão - PR.

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