Exorcismo de nº2


Não quero terminar rígido como um galho.

A maciez das areias me fascinam como o pensamento

da água correndo como veias de sangue sobre a Terra.

O grito enfurecido de meu pai,

o canto do pássaro que não morreu

quando viu que o sol não estava rígido sem movimento.

Não quero terminar torto como um graveto seco.

A palidez dos fantasmas imemoriais me apavoram:

Um deles de cabelos encaracolados, que disfarço

com a minha própria sentença de imagem do espelho.

Não quero começar sendo rígido como pedra.

Sólido como gelo que só muda com o calor.

Não quero começar para terminar como galho, graveto, pedra.

As folhas fixas são as de papel impresso,

movimentadas pelas palavras em um processo

que não distingue oxítonas e regras gramaticais:

Belas, práticas e ademais

Presas, soltas, grudadas e empoeiradas dentro do peito.

Não vejo, não sei - talvez saiba, e fique estático:

Rígido e sem reação.

Não quero terminar pois temo não sentir e deixar passar.

Mas, a permanência é rígida e sadomasoquista o suficiente

para dizer que erro. Aceito a verdade e deixo partir...

A tempestade de verão eleva os vapores da terra aos céus:

Meus lábios são meus - e desprezo a ideia de não ser graveto

pedra ou permanente sem movimento.

Uma úlcera tumoral e poética: explode no estômago.

Parece prever a concepção do que faço e desfaço.

Mando chover e me fecho por dentro:

Irrigando as veias e preenchendo espaço.

Não quero terminar duro, inflexível

tomei a caneta e é irreversível

o movimento - de cima para baixo.


By: Vinicius Osterer, Francisco Beltrão

20/01/2021.

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