Verão Tropical


"Casaremos no verão, quando a neve estiver derretendo..." Não, não casaremos. Não casaremos porque decidi que também isto foi apenas escrito e não vivido. Você decidiu por certo adquirir liberdade noutros olhos. E não lhe julgo, não lhe desaprovo, nem profiro maldições. Bem faz! Como faz certo! Por que motivo sempre falo sobre olhos, sobre ti, sobre outros? Bem faz? E os ciclos mentais em constante desvalia, que rodam sobre minhas retinas - sim volto a falar sobre olhos - tortas. Sempre as retinas tortas! Bem faz! E como faz! Lhe bendigam as alturas, celebrem-se as estações de todo ano mais três, cinco, vinte e sete, oito mil... Vezes, mais, nunca menos e dividido. Divisão é erro. Partilha é correto. Faz bem e correto, em partilha. Disse para mim mesmo: deixe de falar em hábitos cristãos, sua cristofobia é recriminatória - discurso de vexação. Gosto de abacaxi, verniz, sapatos amarelos com solado de madeira... Daí a droga do verniz, da cor de abacaxi. Como é simbólico, o que deve ser apenas partida. O que tem de errado comigo? Com minha mente? Por que estou quebrado, em fatias, esperando um verão fictício que não existe? Sempre a mesma salada de frutas tropical? Nem habito sobre os mesmos trópicos e linhas de expressão que já habitei. Vingo em terra além do equinócio - perdido dentro de livros com capas mais elaboradas e menos juvenis do que este lugar e verso. Universo. Me lembro da criação do choque entre sistemas e galáxias em propulsão. Não é a destruição que causa medo, mas a dor. A dor mental, física e sentimental. Dor em recuperação, que grita: vai poeta, vai escritor, peça ajuda! Não caia na tentação de fincar uma faca sobre os pulsos, passar a viver em repulsa contra a ideia de matéria que não seja em decomposição. Abafado, sem ser um ataque de Pânico e depressão - mas o fio do verão, nada moderno e nem pós-estruturalista... Escreve sem deixar pistas. Mas corre como carros de corridas velozes reprogramando a mente para suportar o peso das palavras sequenciadas. Anos e mais anos, menos e mais nada - rima terminada sem o "s" em desprezo de sua própria solidão, sem plural e companhia. Construção mental de mais de um dia. Bem faz, bem fez, não me importo. Repito para mim até ser verdade. Crueldade, que faço comigo todo dia. Abro a caixa que lhe guardei em um verão construído - e a Pandora ancestral coloca sobre meus corpos infernos. Preciso desligar a mente e corpo de ti. Mesmo não sendo ti o culpado - sim parei de lhe objetificar culpa, o crime não foi você quem cometeu, não foi você que quebrou meu corpo socando minha cara. Presencio a solidão e grito: CADÊ? E revejo que preciso escrever outro tema, que empaco sobre isto por dois anos, minguando palavras, repetindo procissões... Até o verão, partindo da primavera existencial garanto: a linha será estabelecida - o amor e razão pela vida. A realidade está desfocada atrás do vidro canelado. Qual das imagens é real? Quero viver lá fora! Não é verão, pois eu também não sou.


By: Vinicius Osterer. Pato Branco, 23 de Setembro de 2020.

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