Para a Minha Lembrança
Querida sobrinha, você verá o céu que eu
vejo?
Você terá o prazer de ver o pôr do sol aqui
de casa?
Você se sentará para observar o meu desejo?
Ver o horizonte consumir o sol como uma
brasa?
Futuros filhos desta Terra, o que vocês estão
vendo?
Futuros amantes da literatura, quais são os
seus sonhos?
Vocês assim como eu sofreram e acabaram
adoecendo,
Pelas coisas que escolheram ou pelos medos
mais enfadonhos?
Deram os mesmos passos solitários e
indesejáveis?
Mergulharam em um mar de vitórias pessoais
tão risonhas?
Superaram os mesmos obstáculos insuperáveis?
Viraram as mesmas lembranças ás vezes amenas
e tristonhas?
O amor continua sendo o mesmo amor?
E o que você me conta sobre a intolerância e
o ódio?
E para curar as feridas e tanta dor,
Existe algum medicamento eficaz que é tão
pródigo?
Querida família, vocês me amaram pelo que eu
fui de verdade?
Vocês poderão me deixar em um paraíso?
Eu agora estarei feliz por que terei a
liberdade,
Na imortalidade da alma e a cada belo
sorriso,
Dos tantos sorrisos sinceros dos que eu já
dei,
Das tantas alegrias e vitórias que eu
vivenciei,
Este é um amor eterno pelo que eu fui e pelo
que eu ainda serei,
Por que eu sei que eu parti, mas que mesmo
assim eu viverei,
Não me contento quase nunca com tão pouco,
Passei de um quase santo para um totalmente
louco.
Qual dos garotos que eu fui que você
conheceu?
Eu agora sou apenas uma lembrança maluca?
O que de mim você teve? Por que você me
ofendeu?
Eu fui o seu amigo ou a palavra que mais lhe
machuca?
Você provou meu lado real? Você se entregou
aos impulsos?
Você matou sua sede no calor, com uma
limonada gelada?
Você tentou se matar e olhou diretamente para
os seus pulsos,
Mas não conseguiu por que você no fundo ainda
se amava?
Assim como eu fiz. Assim como outros já
tentaram.
Eu já fui um desses que não podia exorcizar
os próprios demônios.
Mas, mais fortes foram aqueles que não se
mataram,
E que no final regularam todos os seus
neurônios.
Não, isso não é coisa de gente maluca, é
coisa de gente cansada,
Melhor escrever a lembrança daquela limonada
tão gelada,
E de tudo aquilo que eu senti e que alguém
também já sentiu,
Erga a sua cabeça se o mundo inteiro já lhe
iludiu,
Não lhe convém o papel de um grande iludido,
De um fracassado, injustiçado, desprivilegiado
ou um bandido.
E com qual céu você sonha? Depois do agora
teve um futuro?
Ainda existe alguma coisa inovadora e
experimental?
Você também já se sentiu tão inseguro,
Pelas coisas mudarem constantemente sem um
final?
Querida sobrinha, você deve ter visto o que
eu nunca vi,
Futuros filhos desta Terra, o que vocês estão
vendo?
Os rumos da literatura que eu nunca conheci,
Podem agora estar abrindo meu livro e me
conhecendo.
O que eu quero não tem mais importância,
Eu já fui presente e também já fui passado.
Quem sabe hoje eu seja apenas uma lembrança,
De alguém que viveu e já foi enterrado.
By: Vinicius de Góis
Feito em 10 de Janeiro de 2016.
Comentários
Postar um comentário