Terapia N°4
Feito em 19 de Outubro de 2014...
- Eu precisava tanto falar com você! Eu tenho
um paciente que está me deixando meio louco. Eu não consigo mais ouvi-lo sem
querer esbofetear a cara dele, sem querer enforcar ele com as minhas mãos, será
que isto é grave?
- Eu acho que é. Você também é terapeuta e
sabe que isto é grave! Por que não sugere que ele ache outro terapeuta e diga
para ele que você não pode mais trata-lo!
- Não isto não. É o mesmo que assinar por
escrito que não sou capaz de tratá-lo. Você sabe que nunca abandonei nenhum dos
meus pacientes. Mas esse me assusta, ele é muito diferente, e está afetando a
minha saúde psicológica.
- Se é tão grave você não estará desistindo
dele, você estará o encaminhando para um tratamento alternativo, pode-se dizer,
e isto não é fracassar.
- Será doutor? Tenho medo de errar com este
paciente.
- E se errar qual é o problema? Nós não somos
infalíveis! Nós todos somos seres humanos, e toda a raça humana é imperfeita.
- Meu Deus, em que situação eu cheguei. Não
quero mais ver este paciente. E se eu mudar de cidade e fugir dele... Não sei,
eu não estou nada bem. O que eu estou dizendo? Ele está me perseguindo doutor,
está tentando assumir a minha cabeça! Ele quer me ver cair, ele quer me ver no
chão, ele tenta me destruir doutor. Isso já me aconteceu, eu sei, mas agora
estou no meu limite!
- Eu sou um pedaço do seu subconsciente, eu
não posso falar muita coisa sobre isto. Mas ele não pode assumir o seu dono.
Ele é a obra e não o criador!
- Eu sei. Mas ele está no meu limite. Você
acha que eu devo matá-lo?
- Não! Coloque-o apenas no seu devido lugar!
Mostre quem manda.
- Aí meu Deus! Eu tenho que conseguir. Vou
tentar. Eu tenho que ao menos tentar. Aí depois posso cogitar a ideia de dar um
tiro no meio da cara daquele idiota patético.
- E no mais? Fui feito pra isso... Como anda
o criador e terapeuta, arquiteto.. sei lá...
- Está bem complicado. Eu acabei misturando
tanta coisa: o pessoal, a obra, o meu trabalho, a ficção, isso tudo me deixou
meio fora de eu mesmo. E olhe que para estar fora de eu mesmo eu preciso estar
realmente bem desesperado para assumir o controle sobre minha vida.
- É. Quem sabe foi daí que eu surgi. Deste
seu tempo fora de você mesmo. E o que você me diz sobre seus planos para o
futuro?
- Sem planos para o futuro. Estou mais na
fase do que vier é lucro. Estou bem nem aí ultimamente. Acho que pela
inexistência de um lugar físico para abrigar a minha alma.
- Nossa, isso foi muito profundo. Lugar
físico para abrigar... Esta frase pode estar na sua lápide do cemitério!
- É. Pior que nem percebi o impacto que ela
causou. Será que devo continuar na arquitetura? Às vezes tenho receio de que
este mundo cheio de fonéticas me encanta mais.
- O que você acha bom e se vê fazendo daqui
alguns anos?
- Ambas as coisas. Mas acho que sou mais
perceptivo as coisas físicas e materiais. Gosto desta materialização do
pensamento, eu não sei se não vejo a escrita apenas como um hobby.
- Acho que você é meio louco!
- Sabe que eu também comecei a achar isso!
- Bom e com relação ao seu paciente?
- Ah! Que merda! Queria poder me desvincular
dele. Ele me deixa para baixo. E acho que nunca fui terapeuta de profissão. Eu
sempre fugi das sessões de terapia.
- Mas é o seu caso. E você não vai querer
perder para ele. Ou você vai?
- Lógico que não. Você não me conhece mesmo.
Nunca me conheceu. E nem iria se não fosse este pequeno deslocamento da minha
retina.
- E os choques elétricos que você recebeu...
- Cala a sua boca! Não lhe dei nenhuma
liberdade. Quanta ousadia!
- Desculpa, nossa. Credo, que mau humor!
- Não lhe pedi nada, não estou lhe obrigando
a me ouvir. E nem questionei o que você me falou. E eu sou o grosseiro? Você é
intrometido... Não me encosta... Que fala coisas que não sabe, que se mete onde
nem foi chamado...
- Então não falo mais nada.
- Pois vai falar! Eu estou lhe criando para
poder ouvir o que você fala! Mas credo. É só não se intrometer em assuntos que
não são seus.
- Nossa quanto autoritarismo, oh Fidel! Um
momento por favor... Meu telefone...
Soraia: - Doutor um paciente lhe espera. Ele
estava marcado. Desculpe o inconveniente!
- Tudo bem Soraia. É ele? Se for mande-o
entrar!
- Ele quem? Você está louco, eu estou falando
com você, eu estou em terapia, por que você marcou com outro paciente?
- Deixa de encher o meu saco. Você quer que
eu ouça e eu só quero resolver o seu problema. Por que você agora passou a ser
um paciente incomodo para a minha sanidade mental!
Soraia: - Sim doutor, doutor? É ele. Bom, ok.
- Eu marquei com este paciente por que achei
que seria alguma coisa úitl. E vai ser...
Sebastien: - Olá... Meu terapeuta? O que você
faz aqui? Este não é meu horário doutor? A secretaria... Soraia o nome dela...
Tinha ligado na minha casa e me dito que...
- Acho que vocês devem conversar Sebastien.
Sebastien: - Não estou entendendo... Eu
converso com ele. Ele é meu terapeuta. Mas ligaram e me disseram que era pra
vim aqui, e não estou conseguindo entender mais nada...
- Ele é louco Sebastien. Este doutor é louco!
Nós iremos conversar sim doutor, mas no meu consultório, no horário que já
havia sido marcado não é mesmo Sebastien? Agora você já pode se retirar, muito
obrigado!
Sebastien: - Não entendi nada, mas tudo bem.
Até então... Senhor terapeuta... Tchau doutor.
- Tchau Sebastien... Eu não resolvi o
problema? Agora o terapeuta pode falar com o paciente... O criador pode
adestrar a sua criatura!
- Você é um idiota! E fique você sabendo que
você será o próximo! Quando você aparecer com a boca cheia de formigas, aí nós
veremos do que eu sou capaz de fazer. Você não é nada mais que um deslocamento
da minha retina...
- Tudo bem. Mas que resolvi o problema eu
resolvi. Grosso... Sai assim sem dar tchau... Mal educado... Credo... Ainda
quer me ameaçar... Jesus. Preciso de férias...
By: Sebastien Cavendish
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