Romaria


Está atrasado, diziam meus olhos

Suficientemente atrasado para calcular que

Não restavam portas, para nenhuma das chaves.

Estava fechado. Dentro de si em romaria.

Velava o pouco de estima, o pouco de amor

O pouco de poesia. Nada restava-lhe.

Não seria mais aquele que construía

Pois era a construção. Toda fechada. Enlutada:

- O que fizeram com o amor que floresceu?

- Deram como incerto, inexistente. Roubaram o melhor de mim.

Choroso decompunha as frases, as cartas, as memórias. Fazia-se memória, em branco. 

Ele vinha com a chave, e dava de cara com uma parede de tijolos recém erguidos.

Não estavam no projeto estrutural e no tratamento psicológico:

- Derrube estas paredes! Por que você quer ser visto com filtro? Do que tem medo?

Perguntava e não obtinha resposta. Como o silêncio e o cúbico de ar, que instaurava uma solidão massiva e concreta.

Inaugurava-se como um experimento científico. Não haveriam poesias, apenas narrações:

- Eis o meu corpo!

- Este não é você! - andavam em romaria. Saiam em romaria. Era romaria com velas e chaves, tentando abrir o não-portas.

Caberia absolutamente todas as formas na poesia (a nova poesia)

Mas, não caberia o amor.

Não caberia por não haver mais portas.

Não caberia por cansar de chaves enferrujadas, que abriam e roubavam as coisas que empilhava em romaria, para existir e não sucumbir das ideias...

Um disse-lhe: aceita chá? 

Outro disse-lhe: é racional!

Outro: mais que porcaria!

Temia padecer do desencontro.

Dar asas aos amores, dentro de galanteios e frases construtivistas:

Mas e ele? 

Destruição. Gritou: não quero mais portas!

Ofendido davam de cara no muro. A chave vinha ire-remediavel, mente, tarde...

Desprendi um último suspiro encharcado, lembrando: este é o corpo poético!

E se desfez pela manhã, em romaria.

Acendia as velas pedindo que entrasse sem chave,

O vento leve e soberano que encheria seus pulmões

Sem nem perguntar de onde...

Tudo o que queria era amor,

Sem gosto de ferrugem.

Então abriu o peito,

Sacudindo a penugem:

Pássaro. Passarão. Passarinho.

Nem poeta, nem amor, só sozinho.


By: Vinicius Osterer

Feito em 22 de Novembro de 2021.

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